Pela primeira vez no Brasil e no mundo será realizado um curso de enfermagem indígena, com alunos dos povos tradicionais de Mato Grosso. A iniciativa é da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e contou com a colaboração do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso (Coren-MT). Para a indígena e professora Valdeiza Avelino Ozanaezokero esse é "um momento histórico para os povos indígenas".
As atividades começaram na segunda-feira (14) e a primeira aula foi com a professora Valdeiza, sobre o uso de plantas medicinais na enfermagem. "Estamos proporcionando um conhecimento inédito que nós, povos indígenas, vamos trazer para dentro da universidade. Vamos poder organizar nosso conhecimento tradicional com os conhecimentos baseados em evidências científicas".
O curso tem duração de cinco anos e trará a formação que integra as peculiaridades dos povos indígenas, sua cultura e tradições com o conhecimento ocidental. São 50 alunos de 27 etnias como Xavante, Pareci, Kaiapó, Nhambiquara e Bacairi. Desde o primeiro semestre os estudantes poderão aplicar as aulas teóricas na prática, com preceptoria nas unidades básicas de saúde de Barra do Bugres (168 km a médio-norte).
"Esse é o primeiro curso de enfermagem historicamente 100% formado por estudantes indígenas. Será unida a parte científica com a parte cultural, o que vai transcender todo o cuidado que a gente pensa de enfermagem. Esse é um momento único no mundo, não temos conhecimento de uma turma nesse nível", afirma o coordenador da Comissão de Saúde Intercultural do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Paulo Murilo de Paiva.
Desde as primeiras reuniões para o desenvolvimento do curso o Coren-MT esteve presente na construção da grade curricular. "Estivemos desde o começo desse projeto desafiador apoiando, orientando e fazendo o elo entre o Conselho Regional e o Conselho Federal para trazer para dentro do curso uma legislação, uma norma legal para o conhecimento adequado. Estivemos amparando legalmente essa estrutura, principalmente no campo de estágio", explica a presidente do Coren-MT, Lígia Arfeli.
Coordenadora do curso, a enfermeira Ana Cláudia Trettel, que estudou essa relação com os povos indígenas em seu doutorado, explica que a graduação em enfermagem indígena trará uma grade curricular inédita, valorizando a ancestralidade. "A diferença nesse curso reside na forma de sua oferta, que tem o momento universidade e o momento aldeia. Na universidade eles terão aulas teóricas e depois levarão para as aldeias esse conhecimento e vão executar projetos de extensão, pesquisa e práticas de campo que irão auxiliar essas comunidades. Com certeza estamos com toda a energia da ancestralidade nos unindo nesse propósito de formação em enfermagem".
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